domingo, 2 de março de 2008

Quem sabe um dia...

Hoje, como havia prometido a Patrícia, fui ao teatro, ver a sua peça. Era o último dia, com duas seções. Como estou sem poder andar no carro, fui na primeira às 17:00.
Cheguei mais cedo, de carona com minha mãe. Comprei o ingresso e, enquanto esperava chegar a hora do espetáculo, comecei a caminhar pelo Santa Rosa. E fui tomado por uma avalanche de emoções.
Aquelas paredes me fizeram recordar uma parte de mim. Como se um pedaço do meu ser tivesse ficado ali, guardado, quando pela última vez pisei em um palco, como ator. Como se, terminado o espetáculo, ao tirar o figurino e a maquiagem, a máscara, tivesse deixado ali, guardado, talvez perdido um pedaço de minha alma.
Que saudade enorme! Saudade do ator, que tenho adormecido aqui dentro. Dos dias e horas de ensaio, suando, preparando o corpo e a mente para emprestá-los a um outro ser com outros movimentos, outras falas, outro equilíbrio. Saudade da preparação do figurino, dos textos a serem decorados.
Principalmente, saudade da respiração entrecortada dos beijos, abraços, apertos de mão, dos “merde’s” e “quebre-a-perna’s” trocados pelos atores prestes a entrar em cena. Daquela ansiedade gostosa: as famosas borboletas dançando na boca do estomago. Da energia trocada em cena entre artista e público, das emoções vividas pelos personagens, dos risos e lágrimas arrancados da platéia e, finalmente dos aplausos.
Senti falta do que jamais tive: alguém para segurar minha mão, enquanto caminhava ao redor da fonte, dividindo silenciosamente aquelas emoções todas. Que pudesse sentar ao meu lado enquanto esperava, enquanto assistia.
Pensei sobre como nós temos que fazer escolhas em nossas vidas. Em como pessoas como eu, que guardam tantos sonhos dentro de si têm que aprender a renunciar a partes de seu eu, de seus desejos, para poder fazer alguma coisa na vida. Porque quem muito deseja, pouco alcança.
É preciso tempo e estudo para ser bom. Seja bom ator, bom cantor, bom jurista, lingüista, professor... Internacionalista. O que ser? Quem ser? Se foi a escolha certa ou não, eu não sei. Mas já fiz uma escolha. Já que não consigo ser bom em tudo, vou me esforçar para ser bom em algo. Melhor me dedicar a apenas uma atividade e fazê-la bem feita e, através dela, fazer alguma diferença, do que simplesmente tentar fazer tanta coisa e não realizar nada. E não ser nada. É com essa crença que vou tentando afogar todas essas facetas de meu ser. Não. Vou guardá-las para, quem sabe um dia, com fé, retirá-las do armário.

Nenhum comentário: